DANIEL ALVARENGA – A PESSOA
Daniel Alvarenga viveu uma vida breve. Mas não veio a vida a passeio. Desde os 19 anos, quando começou no montanhismo, Daniel Alvarenga deixou sua marca no mundo. Mantinha uma dedicação intensa tanto ao CEB quanto ao CERJ.
Uma de suas mais marcantes características era um bom humor, e quando se juntava com o José Zaib, era diversão na certa.
Também era conhecido por sua persistência, o que se comprovou quando ajudou a localizar grande parte dos fundadores do CERJ, para as comemorações dos 50 anos do Clube, que aconteceram em 1989. Porém, veio a falecer em 1988 num acidente de trânsito, aos 24 anos.
No livro “As Descidas Vertiginosas do Dedo de Deus” (1999), de autoria do Santa Cruz e Sayão, há um emocionante relato que demonstra o significado que a vida de Daniel Alvarenga tem para a nossa história e principalmente para aqueles que conviveram com ele: “Na base das Pedras Soltas, demos uma pausa maior do que de costume e malocamos o excesso de peso. Subimos, então, com cuidado, os cabos de aço. Filipe, Willy e Tarcisio puderam ver e sentir como alguns daqueles cabos estavam mal colocados.
Enquanto subíamos, o tempo que a principio estava magnífico, foi ficando nublado. Já na altura da Bifurcação saudávamos e éramos saudados por nossos companheiros que já estavam na conquista da Variante Gilda Borges. Voltamos a fazer uma pausa perto da base da Via Teixeira. Foi nesse ponto da subida que Filipe tirou da mochila quatro grampos de 13 mm que haviam pertencido ao seu irmão DANIEL ALVARENGA. Ele, que participou de tantas caminhadas, escaladas e conquistas pelo CERJ e pelo CEB, paradoxalmente perdeu a vida aos 24 anos após ter sido atropelado na calçada por um motorista que dirigia embriagado. Ao utilizar seus derradeiros grampos na Via Teixeira, nós iríamos, mais uma vez, homenageá-lo e relembrar a sua passagem luminosa entre nós.”
DANIEL ALVARENGA – A HOMENAGEM
Daniel também foi homenageado com a designação de uma conquista em 23 de janeiro de 1990, por Santa Cruz, Sayão e Christian. A Descida Daniel Alvarenga fica localizada no Dedo de Nossa Senhora (PNSO). É possível acessá-la após chegar ao cume.
A maioria dos freqüentadores do Dedo de Nossa Senhora utiliza a via normal (Paredão Bendy) para a descida, por desconhecer esta bela opção. A duplicação dos grampos foi concluída numa excursão de minha ETGE em 30 de abril de 2005, quando o nosso Guia Rodrigo, debaixo de chuva, vento e frio, duplicou o último grampo que faltava. Já realizei esta descida algumas vezes, e pude compreender o quão justa é a homenagem ao Daniel, pois aqueles que o conheceram nos transmitiram a memória de uma pessoa plena de companheirismo, amor e paixão. Enfim, uma pessoa tão intensa quanto as sensações obtidas na via de descida Daniel Alvarenga: Vertigem, Medo, Superação e outras tantas emoções.
A descida se inicia um pouco abaixo do cume na base da Variante Willy Chen. Dois pequenos rapéis nos aproximam da beira de um abismo. Até então não temos a visão real da descida. Apenas no rapel seguinte somos lançados pela parede vertical da montanha e ancorados apenas por nossas solteiras. Neste ponto, quantas visões são descortinadas: os vales formados pelo Dedo de Deus, pelo Cabeça de Peixe, os Portais de Hércules. É tanto para ser admirado, mas nem podemos nos deter nesta contemplação, pois neste momento será exigida a nossa total atenção para os procedimentos de descida. Somamos a este rapel outros nove, rumo à base, local bem confortável e próximo ao colo da montanha, o qual atingimos por uma pequena caminhada. Após este ponto é só descer a trilha normal.
DANIEL ALVARENGA – A BIBLIOTECA
Na verdade esta Biblioteca tem uma história anterior à própria UNICERJ, pois o CERJ já teve uma “Biblioteca Daniel Alvarenga”. Mas em nosso Clube ela foi criada em 1998. Inicialmente havia poucos títulos e o controle dos poucos volumes era feito numa planilha em nosso computador.
Contamos hoje com o acervo de 615 livros nas categorias de ficção, romance, aventura, montanhismo, ciências, história e outros. Para citar alguns dos exemplares que temos hoje: A escalada – A verdadeira história da tragédia no Everest (Anatoli Boukrrev); Quarup (Antonio Calado); As Viagens de Marco Pólo (Carlos Heitor Cony); Laços de Família (Clarice Lispector); O Primo Basílio (Eça de Queiroz); As Veias Abertas da América Latina (Eduardo Galeano); Olga (Fernando Morais); Cem anos de Solidão (Gabriel Garcia Marques); Casa Grande & Senzala (Gilberto Freire); Vidas Secas (Graciliano Ramos); Verdade e Existência (Jean Paul Satre); As Vinhas da Ira (John Steinbeck); Viagem ao Centro da Terra (Julio Verne); Os conquistadores do Inútil (Lionel Terray); Dom Casmurro (Machado de Assis); Conversa na Catedral (Mario Vargas Llosa); Annapurna (Maurice Herzog); Confesso que Vivi (Pablo Neruda); Fernão Capelo Gaivota (Richard Bach); As Descidas Vertiginosas do Dedo de Deus (Santa Cruz/Luis Sayão); Treking and Climbing in the Andes (Val Pitkethly & Kate Harper); Dersu Uzala (Vladimir Arseniev); O Mercador de Veneza (Willian Shakespeare) entre outros tantos livros a serem utilizados por nossos sócios.
O controle do acervo é simples, mas eficiente. Qualquer Diretor do Clube que esteja atendendo o público no balcão pode receber e emprestar livros aos sócios.
No dia 13 de novembro de 2006, aproveitando a comemoração de mais um aniversário da 1ª Carta Aberta aos Montanhistas e à Sociedade, realizamos a tão sonhada re-inauguração. Em plena segunda feira, reunimos em nossa sede 32 amigos entre sócios e convidados com a presença não só de Filipe Alvarenga, mas também de sua mãe dona Arlete Alvarenga. Após descerramos a placa comemorativa, ouvimos Dona Arlete que ao agradecer a homenagem, destacou que após 18 anos de sua partida, Daniel ainda é lembrado com carinho por tantos.
Entre os projetos para o futuro, destaca-se a aquisição de obras clássicas da literatura que se tornaram denominação de vias conquistadas pela UNICERJ ou por outros Clubes. Portanto, a biblioteca tem hoje um grande potencial para gerar outros interesses culturais no Clube.
François Paiva