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Quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

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Boletim n°15 - Ago. 2011
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Companheirismo e Sobrevivência

Em maio de 2010, estávamos fazendo uma excursão no PNT, onde faríamos a travessia Alto da Boa Vista-Grajaú, excursão da qual já havia participado uma vez em 2006.

Minha recordação era de uma caminhada agradável, bonita e que inspirava mais cuidados no seu trecho final, pois o terreno era mais arenoso e íngreme, dando às vezes a impressão de que bastava um tropeço para "rolar abaixo". E lembrava dos carrapatos, situação indesejável para a qual nosso companheiro Boulanger certa vez nos deu a dica em uma excursão ao Morro das Antas (basta "embebedar" o carrapato com um algodão e álcool e ele sai da sua pele. Aí é só puxar com uma pinça. Fiz isso com os 14 carrapatos que peguei naquela vez).

Esta travessia era minha primeira excursão depois de ter me formado Guia da UNICERJ. Tinha planejado fazer uma Serrilha do Papagaio, mas depois decidi me juntar ao companheiro François, que já tinha aberto a prancheta bem antes.

Excursão agradável, grupo divertido, mas uma situação inusitada até então mudou o rumo inicial planejado. Estávamos removendo alguns bambus secos que haviam caído na trilha, logo depois do colo entre o Andaraí Maior e o Tijuca-Mirim. Foi quando senti uma dor muito forte, diferente de tudo que havia sentido na vida até então.

Avistei uma cobra pequena e tive certeza que tinha sido picado, o que confirmamos logo em seguida, ao verificar a marca das presas na coxa direita. A cor muito parecida com a da vegetação dificultava visualizá-la. Nesta hora, se pensa como isso pode ter acontecido com a gente.

A excursão foi interrompida e foi muito importante para mim o rápido retorno e a postura do grupo, que não demonstrou desequilíbrio emocional em nenhum momento, pois tive que caminhar quase 50 minutos até o barracão do PNT, onde uma ambulância chegou logo em seguida.

Nunca vou esquecer a firmeza do François que não me deixou parar, quando eu estava desanimado, com tontura e um pouco de enjoo: resultado de medo, fome e sede. Não queria beber água para o sangue ficar "denso" e o veneno circular mais devagar. Parece que foi um raciocínio equivocado, mas naquele momento, se pensa qualquer coisa. Não dá pra esquecer também que a calma dos participantes foi importante, parecia que estávamos indo tomar chope. Isso ajuda muito. E também como foi importante o companheiro Osiris ter literalmente "corrido" na frente de todos, o que possibilitou que o socorro não tivesse demorado.

Andar de ambulância é perigoso. Só estando dentro de uma delas e sabendo como o tempo é importante para salvar sua vida é que tive a real dimensão do esforço que os bombeiros fazem para salvar as pessoas. Se no trânsito instintivamente já sabia da importância de deixar uma ambulância passar, depois desta experiência, fica a compreensão do que significa esse gesto. No caminho, havia motoristas mal-educados que não davam passagem, e o motorista da ambulância tinha que gritar com as pessoas para passar.

Fica também o reconhecimento do esforço que faz o Corpo de Bombeiros diariamente para salvar vidas, em situações as mais diversas. A minha era apenas mais uma entre tantas que ocorrem diariamente no nosso país. Osiris me acompanhou e percebemos como é desconfortável andar de ambulância em alta velocidade: íamos de um lado para o outro, nos segurando. Imagina quem trabalha todo o dia dentro desta ambulância, com a missão de ajudar as pessoas. Neste momento, percebemos como o Corpo de Bombeiros é uma instituição que merece ser respeitada e reconhecida pela população.

Fomos encaminhados ao Hospital Lourenço Jorge, especializado em ocorrências ofídicas. Realmente, a emergência tem esse nome não é por acaso. Muita gente com problemas ao mesmo tempo e todas as críticas devem ser relativizadas. São muitos pacientes para um único profissional. Uma das enfermeiras que me atendeu tinha, se não me engano, 23 pacientes para cuidar no seu plantão.

Meu atendimento demorou um pouco, fiz dois exames de sangue e, logo em seguida, ela me aplicou quatro ampolas de soro antibotrópico (próprio para jararaca). Na emergência, pensava em sair logo, chegar em casa e nem contar que tinha sido picado. Não queria assustar minha esposa, grávida de sete meses. Mas o tempo passou e ela teve que ficar sabendo e foi me visitar, junto com sua mãe e meu irmão. Por certo, imaginou muita coisa.

Foi importante também o carinho e a presença de todos que estiveram por lá (Mariangela, Lucia, Santa Cruz, Aleksandra e Tarcisio) e de todos que de alguma forma se fizeram presentes, dando força.

No último exame, Às 19:30 h, os resultados mostraram aspecto normal do sangue e tive alta, sendo levado para casa pela Mariangela.

O médico que me atendeu disse que depois deste tratamento, deveria ser observada alguma reação que pudesse existir. Na região da picada, deveria ser observado uma coloração arroxeada, mas não em excesso. Alguma dor também seria aceitável e poderia surgir uma infecção no local, por conta de bactérias que a boca da cobra normalmente contém.

O cuidado de lavar o local com sabão e água no momento da picada foi, por certo, um fator importante. Não consegui pensar nisso na hora, mas o Osiris e François auxiliaram nesse sentido.

Alguns dias depois da picada, ainda fiquei dolorido e com a pele levemente arroxeada na região. Do ponto de vista psicológico, porém, a marca que fica é permanente, posso afirmar. A experiência não foi boa, mas mostrou bem as dificuldades de um evento desta natureza em uma excursão. Ainda mais que existem possibilidades como aranhas, escorpiões e lagartas. Todo o cuidado é pouco mesmo.

Mas também ficou a certeza do cuidado, carinho e dedicação de todos que participaram daquela excursão e de como foram importantes, por certo, para que tudo corresse bem. E principalmente, de Deus, que nos protegeu.

Jeferson


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