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Domingo, 28 de abril de 2024

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Boletim n°6 - Nov. 2001
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Chaminé Ricardo Borges

No dia em que entregamos a conquista ao nosso amigo e irmão Ricardo Borges, na sede do nosso Clube, Christian, que não participou de nenhuma das investidas, mas é sempre lembrado por ser um companheiro sempre presente nas nossas conversas, dirigiu-se aos sócios da UNICERJ para explicar o simbolismo de dar a uma conquista o nome de um amigo: "esta é uma tradição muito antiga que nós da UNICERJ não queremos deixar acabar". Ainda mais um conquista que exigiu tanto esforço e dedicação. Acho que está à altura do Borges, como ele constatou ao participar da escalada inaugural que fizemos nos dias 08 e 09 de setembro (Borges, Valdecir, Edilso e Santa Cruz).

Borges escalando o Caixa de Fósforos em SalinasO mais pitoresco de tudo é que nós chegamos a pensar que conseguiríamos terminar a conquista na 17ª investida, dia 17 de junho, quando demos tudo de nós, avançamos feito alucinados, superando dificuldades imensas, mas a escalada não acabava. Na ocasião o Borges estava conosco. Nós acreditávamos que poderíamos entregar a ele a sua conquista no cume, após concluí-la. Nem passava pela sua cabeça que aquela chaminé ia ter o nome Ricardo Borges. Não foi ainda na 17ª investida em que participaram Valdecir, Edilso, Leo, Santa Cruz e Borges.

Montanhas têm seus próprios desígnios. Voltamos então para a 18ª investida certos que faltava muito pouco, um infinitésimo apenas. Afinal, já tinham sido batidos mais de 160 grampos e ainda havia pedra a nossa frente. Nós pensávamos: agora falta um quase nada. Nesse dia 07 de julho, Valdecir, Edilso e eu fomos para a montanha certos que tínhamos tudo para concluir a conquista e voltar ao local de bivaque triunfantes, antes do anoitecer. Os mais de 300 metros de corda fixa, deixadas das investidas anteriores, ajudaram bastante para que pudéssemos subir com eficiência os lances já conquistados. Foram pouco mais de três horas jumareando nos paredões, nas fissuras e principalmente por dentro das infindáveis chaminés. Havia chovido nas primeiras horas da manhã, quando começamos a subir, mas ao chegarmos ao último grampo, batido na investida anterior, a escalada já estava seca de novo.

Valdecir foi o primeiro a conquistar. Teve que sair em horizontal, pois para cima a pedra era completamente podre. Usando pítons, grampos, chapeletas, nuts e friends, foi obrigado a se afastar do nosso objetivo, que era o cume, simplesmente porque não havia outro jeito. Enquanto isso, o tempo, inexoravelmente seguia fluindo.

Foi preciso muita perseverança. Mas nós já havíamos demonstrado bastante obstinação, caso contrário não estaríamos na 18ª investida nessa conquista. Quando Edilso substituiu Valdecir na ponta a brabeira continuava, mas agora já dava para avançar para cima. Num dado momento, vimos que seria melhor abandonarmos todas as esperanças de retorno à base naquele dia. Era melhor prosseguir e bivacar no cume, mesmo precariamente.

Para nossa sorte o tempo estava firme e assim continuou. Edilso parecia uma autêntica máquina de furar - sem furadeira, diga-se de passagem - avançando bastante até que conseguimos contornar a parte de rocha podre.

Quando chegou a minha vez de conquistar já estava escurecendo e nada do cume dar sinal de vida. Mas não podia estar muito longe. Mesmo assim nós só conseguimos chegar ao topo às 21:10 horas.

Edilso e Leo na Chaminé Ricardo Borges - ESNosso cansaço só não era maior que a nossa alegria por havermos conseguido completar mais uma belíssima conquista para a UNICERJ e todos os montanhistas que ousarem escalar a Cha. Ricardo Borges.

Só nesta 18ª investida batemos 18 grampos e/ou chapeletas e trabalhamos durante 11 horas e 40 minutos na conquista (sem contar as três horas e pouco de subida de jumars).

Fez frio durante a noite e o farnel praticamente já tinha acabado, mas havia água suficiente.

Estávamos exaustos e ao mesmo tempo realizados. Nós só conseguimos porque acreditamos que seria possível. Não foi fácil. Nem podia ter sido.

Se chovesse ia ser um Deus nos acuda, pois não dispúnhamos nem de um plástico para nos proteger. Só anoraks e olhe lá. Mas não choveu e assim que clareou contemplamos aquela vista tão bonita e tratamos de descer. Vale dizer que a descida foi trabalhosa como o diabo, principalmente por causa dos lances horizontais. Mas deu tudo certo e ao meio dia chegávamos ao acampamento onde Edilso preparou um magnifico almoço, que se repetiu depois na escalada inaugural, com a presença do nosso amigo Ricardo Borges que dá o nome a esta magistral escalada.

Santa Cruz


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