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Quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

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Boletim n°7 - Out. 2002
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Editorial

Montanhismo e Cidadania

Nos Boletins anteriores sempre procuramos explorar, com imparcialidade, nossa visão sobre a prática do Montanhismo nas questões que se apresentam como verdades absolutas ou, ainda, desmistificar conceitos pré-concebidos a respeito das idéias que a UNICERJ divulga e também apóia. Nem sempre é tarefa fácil traduzir, em poucas linhas, toda a reflexão sobre determinado tema. Quase sempre temos que recorrer ao expediente da pesquisa de dados e de fatos concretos, atuais e históricos, pois, como já dissemos, as idéias e convicções de cada um podem não ser, necessariamente, a verdade de outros.

Embora o Montanhismo propicie uma diversidade de estilos na sua prática, oferecendo espaço para todos os gostos, sejam os amadores românticos, sejam os aficcionados pela técnica como um fim em si mesmo ou mesmo as pessoas que usam a atividade como fonte de renda, o fato é que, a prática do Montanhismo, na visão conceitual de esporte, é uma atividade não formal caracterizada como lúdica para quem a pratica. Com efeito, diferentemente do esporte de competição, o Montanhismo não está regulado por normas ou regras, tendo como princípio básico a expressão livre de cada praticante, de acordo com sua capacidade e interesse.

Mas a liberdade tem um preço e um dos vieses dessa história é que, contrário senso, alguns escaladores adotam, como paradigma, o risco pelo risco. Insistimos e reafirmamos que a conduta e a orientação de cada indivíduo está condicionada à sua própria consciência. Todavia, o Montanhismo é uma atividade coletiva por excelência e, salvo algumas restrições de acesso, sua prática se dá, especialmente, em ambientes naturais ao alcance de qualquer pessoa. Por essa razão, entendemos que a pedra basilar de qualquer ideologia, em prol da prática do Montanhismo, deve estar fundada no respeito à vida e à segurança dos seus praticantes. Este é o fio condutor que tem distinguido as ações da UNICERJ.

Vejam, por exemplo, a Chaminé Stop localizada no Pão de Açúcar, RJ. Recentemente, a convite do nosso Clube, os representantes da FEMERJ estiveram em nossa sede para dialogar. Embora existam algumas diferenças nos princípios estatutários entre a UNICERJ e a FEMERJ, como exemplo, a competição a qual a FEMERJ incentiva e promove, contrariamente a UNICERJ, acreditamos que, numa sociedade pluralista de idéias e opiniões, é saudável e enriquecedor a troca de experiência e o trabalho coletivo concorrendo para um objetivo comum. Dentre os vários assuntos tratados abordamos o caso ocorrido, em maio último, na Chaminé Stop, quando, na oportunidade, 2 escaladores arrancaram, na surdina, vários grampos da via abaixo de onde estávamos, mesmo cientes que o nosso grupo (7 pessoas) retornaria à base pela própria via, fato este narrado, detalhadamente, na nossa página na Internet. Foi solicitado a FEMERJ, na citada reunião, se possível fosse, aplicar uma punição disciplinar aos, sabidamente, envolvidos.

Independente das posições ideológicas sobre a prática do Montanhismo, que tem gerado ao longo de anos e anos um confronto de atitudes no Brasil e no mundo, nem sempre civilizadas e por vezes incógnitas, queremos chamar a atenção para a incompreensível escalada do desprezo pelos valores humanos de cordialidade e respeito ao próximo. Não podemos e não devemos conceber, ou mesmo confundir, que o campo das idéias divergentes se transforme num campo de batalha fratricida, onde a nobreza da escrita e da palavra e da atitude benévola venham a ser substituídas pela insensatez daqueles que acreditam no predomínio da truculência e também dos que, empossados em cargos públicos, alguns verdadeiras sinecuras, usam ou usarão, prevaricando, ou seja, para satisfazer sentimentos pessoais, o poder institucionalizado para tentar aniquilar seus antagonistas.

Voltando ao "caso Stop", mesmo incrédulos, até podemos imaginar que as pessoas que praticaram aquele ato, indigno por sinal, o fizeram sugestionadas, a nosso ver, por uma equivocada e suspeita convicção de um status quo anterior, sobejamente contestado por argumentos e provas materiais da época da conquista (1944), quando da nossa reunião com a FEMERJ. Mas, em nome de uma crença, não podemos aceitar que pessoas ajam sordidamente colocando em risco a vida de seu semelhante.

Arrematando, entendemos não ser supérfluo frisar a necessidade de que todos os montanhistas, principalmente aqueles que detêm a liderança natural, atentem para a responsabilidade intransferível de cada um pelos desígnios do Montanhismo no Brasil.

Que o "caso Stop" aflore nas nossas mentes reflexões sobre os conflitos passados e presentes, e também uma alta indagação quanto ao nosso futuro, naquilo que realmente pretendemos para as gerações vindouras, tendo, como propósito, prevalecer o juízo dos homens despojados dos sentimentos mesquinhos, obtusos e egoístas.


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